Carioca, nascido em Botafogo, Emilio Lèbre La Rovere, 62 anos, herdou do pai, Ruggiero La Rovere, a vocação para a engenharia e das leituras a predileção pela economia. Mas foi a partir do seu primeiro estágio, na Financiadora de Estudos e Pesquisas (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, que optou pela pesquisa, dando início a uma carreira bem-sucedida. Na parede do seu gabinete, um fac-símile atesta sua contribuição na conquista do prêmio Nobel da Paz de 2007, que contempla pesquisadores que colaboraram com o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), vencedor naquele ano em conjunto com Al Gore.
Graduado em Engenharia Elétrica, de Sistemas e Industrial pela PUC-RJ (1975), e em Economia pela UFRJ, no ano seguinte, concluiu o mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação, na Coppe, em 1977, sob a orientação do professor Nelson Maculan. Cursou o doutorado em Técnicas Econômicas, Previsão, Prospectiva pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, sob a orientação do professor Ignacy Sachs, defendendo sua tese em 1980.
Emilio trabalhou na Finep, entre 1975 e 1988, onde chefiou a Divisão de Infraestrutura Energética nos últimos dois anos. Ingressou na Coppe em 1988, como professor adjunto, onde em 2013 passou a Professor Titular. Em sua trajetória acadêmica, orientou 80 dissertações de mestrado e 35 teses de doutorado, escreveu ou organizou 31 livros, publicou 93 artigos em periódicos e 130 em congressos. Foi o primeiro coordenador do Mestrado e Doutorado em Engenharia Ambiental da Coppe, de 1988 a 1997, e coordenou o Programa de Planejamento Energético, em 1995-1996. Coordena o Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente (Lima), desde 1997, e o Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (CentroClima), desde 2000.
Uma noite insone, uma vocação desperta
A decisão de conciliar duas faculdades surgiu de uma noite insone. "Quando estava no primeiro ano de Engenharia na PUC, fiquei um pouco decepcionado com a aridez do curso. Em um fim de semana na casa de uma amiga, em Petrópolis, peguei na estante o livro “Introdução à Economia”, de Paul Samuelson, vencedor do prêmio Nobel. Varei a noite lendo e fiquei fascinado. Decidi, então, me inscrever no vestibular para Economia, na UFRJ", relatou Emilio.
No doutorado, em Paris, enveredou pelo caminho da economia do meioambiente, analisando os custos e os investimentos necessários à implementação de fontes de energia alternativa. Foi nesse período que recebeu a visita do professor Adilson de Oliveira, que fazia doutorado em Grenoble, e queria criar um programa de energia na Coppe. "Conversamos e ele me perguntou se eu gostaria de participar. Ele e os professores Luiz Pinguelli Rosa, João Lizardo Hermes de Araújo e Juan Batista Soto criaram uma Área Interdisciplinar de Energia (AIE), que resultou depois no Programa de Planejamento Energético (PPE). De volta ao Brasil, Emilio dedicou-se mais alguns anos à Finep, trabalhando nos primeiros projetos de financiamento de energia alternativa: solar, eólica e no programa Pró-álcool. Paralelamente, começou a dar aulas na AIE, duas vezes por semana.
O meio ambiente na Coppe e o IPCC
Emilio colaborou na implantação da área de concentração em meio ambiente do Programa de Planejamento Energético da Coppe. "Quando o Pinguelli me convidou, ele estava interessado em organizar os cursos da Coppe em meio ambiente. Propus uma estrutura matricial, com participação de pesquisadores das diversas áreas da engenharia. Oito programas que tinham interface com o tema aderiram. O aluno que cursasse duas disciplinas no PPE e defendesse dissertação ou tese sobre meioambiente poderia ter em seu diploma a menção de área de concentração em meioambiente. Deu certo e está em vigor até hoje".
Em 1997 Emilio criou o Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente (Lima) e, em 2000, o Centro Clima, que funciona como um centro virtual.“O Centro Clima cresceu muito porque a partir de 1992 eu me envolvi com o IPCC, no qual trabalhei em diversos relatórios e tive a honra de receber essa plaquinha”, disse o professor com um sorriso, apontando o fac-símile em destaque na parede de seu gabinete que remete ao Prêmio Nobel recebido em 2007 pelo IPCC e seus membros.
“O IPCC promove um diálogo entre o mundo da ciência e o da política. A gente busca nos relatórios levar uma síntese do que é produzido academicamente aos tomadores de decisões", esclarece o professor, que também integra o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, cujo objetivo é aprofundar as pesquisas e motivar colegas a trabalhar com o tema no Brasil. “Conseguimos agregar centenas de pesquisadores e agora queremos que eles façam parte do IPCC. Nós não vamos demorar a sair de cena, é preciso haver renovação", antecipa
Dribles e recomeços
Com dupla nacionalidade, brasileira e italiana, Emilio tem o nome do avô materno francês, goleiro do Mangueira e da seleção carioca, que lhe influenciou inclusive na escolha do time: o Flamengo. É o filho mais velho da brasileira Regina e do napolitano Ruggiero La Rovere. Herdou a vocação do pai, engenheiro industrial mecânico, formado pela Universidade de Nápoles, descrito pelos seus colegas como a "transferência de tecnologia personificada", , por ter registrado várias patentes. Ruggiero migrou para o Brasil, aos 28 anos, e a bordo do navio que o traria ao Rio de Janeiro conheceu Regina Lèbre, que retornava de uma viagem de lazer. Casaram-se e tiveram três filhos: Emilio, Henriette e Renata.
Emilio cresceu na integração das duas culturas. No almoço, quando o pai estava trabalhando, a comida era brasileira. À noite, a culinária era italiana: sopa, massa com ragu, vinho tinto, e salada no final. "Há um provérbio italiano que diz que 'À mesa não se envelhece'. Na mesa você conversa, leva tempo. Não é como os americanos que comem sanduíche em cima do teclado do computador, compara o professor, que mantém o hábito quando visita sua mãe, hoje com 94 anos.
Filho de torcedor do Napoli, que é o seu time preferido no calcio, Emilio na infância deu seus dribles jogando futebol na praça, na quadra dos bombeiros, de areia da praia de Copacabana; na Lagoa com os meninos da favela da Catacumba e também com colegas do Santo Inácio. Com Ana Lucia, teve três filhos: Luciana, economista pós-graduada em Letras, intérprete e tradutora, nasceu em Paris; Roberta, formada em Comunicação, com pós-graduação em Relações Internacionais, em Nápoles; e Marcello, o carioca, economista, é doutorando em Economia em Paris. Às vésperas de receber o Prêmio Coppe Mérito Acadêmico Giulio Massarani, uma justa homenagem a sua trajetória, o professor tem mais um motivo para comemorar: viúvo há três anos, acaba de se casar, pela segunda vez, com a francesa Nadine Kichenin. “A vida (re)começa aos sessenta", acredita Emilio.
Fonte: Planeta COPPE